A liturgia deste domingo mostra-nos, com exemplos concretos, como Deus tem um projeto de salvação para oferecer a todos os homens, sem exceção; reconhecer o dom de Deus, acolhê-lo com amor e gratidão, é a condição para vencer a alienação, o sofrimento, o afastamento de Deus e dos irmãos e chegar à vida plena.
A primeira leitura apresenta-nos a história de um leproso (o sírio Naamã). O episódio revela que só Jahwéh oferece ao homem a vida e a salvação, sem limites nem exceções; ao homem resta acolher o dom de Deus, reconhecê-lo como o único salvador e manifestar-lhe gratidão.
A segunda leitura define a existência cristã como identificação com Cristo. Quem acolhe o dom de Deus, torna-se discípulo: identifica-se com Cristo, vive no amor e na entrega aos irmãos e chega à vida nova da ressurreição.
O Evangelho apresenta-nos um grupo de leprosos que se encontram com Jesus, e que através de Jesus descobrem a misericórdia e o amor de Deus. Eles representam toda a humanidade, envolvida pela miséria e pelo sofrimento, sobre quem Deus derrama a sua bondade, o seu amor, a sua salvação. Também aqui se chama a atenção para a resposta do homem ao dom de Deus: todos os que experimentam a salvação que Deus oferece devem reconhecer o dom, acolhê-lo e manifestar a Deus a sua gratidão.
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II Reis 5, 14-17
Naaman desceu ao Jordão e lavou-se sete vezes, como lhe ordenara o homem de Deus, e a sua carne tornou-se como a de uma criança e ficou limpo.
Voltou, então, ao homem de Deus com toda a sua comitiva; entrou, apresentou-se diante dele e disse: «Reconheço agora que não há outro Deus em toda a Terra, senão o de Israel. Aceita este presente do teu servo.» Eliseu respondeu: «Pelo Senhor, o Deus vivo a quem sirvo, juro que nada aceitarei.» E, apesar das instâncias de Naaman, ele continuou a recusar.
Então, Naaman disse: «Já que não aceitas, permite ao menos que se dê ao teu servo uma quantidade de terra deste país, tanta quanta possam carregar duas mulas. Pois doravante o teu servo não oferecerá mais holocaustos nem sacrifícios a outros deuses, mas somente ao Senhor.»
Salmos 98 (97), 1-4
Cantai ao SENHOR um cântico novo,
porque Ele fez maravilhas!
A sua mão direita e o seu santo braço
lhe deram a vitória.
O SENHOR anunciou a sua vitória,
revelou aos povos a sua justiça.
Lembrou-se do seu amor
e da sua fidelidade
em favor da casa de Israel.
Todos os confins da terra presenciaram
o triunfo libertador do nosso Deus.
Aclamai o SENHOR, terra inteira,
exultai de alegria e cantai.
II Timóteo 2, 8-13
Tem sempre bem presente Jesus Cristo, ressuscitado dentre os mortos e nascido da linhagem de Davi, segundo o meu Evangelho, pelo qual sofro mesmo estas cadeias, como se fosse um malfeitor. Mas a palavra de Deus não pode ser acorrentada. Por isso, tudo suporto pelos eleitos, para que também eles alcancem a salvação em Cristo Jesus e a glória eterna.
É digna de fé esta palavra: se com Ele morrermos, também com Ele viveremos. Se nos mantivermos firmes, reinaremos com Ele. Se O negarmos, também Ele nos negará. Se formos infiéis, Ele permanecerá fiel, pois não pode negar-Se a Si mesmo.
Evangelho segundo São Lucas 17, 11-19
Quando caminhava para Jerusalém, Jesus passou através da Samaria e da Galiléia. Ao entrar numa aldeia, dez homens leprosos vieram ao seu encontro; mantendo-se à distância, gritaram, dizendo: «Jesus, Mestre, tem misericórdia de nós!» Ao vê-los, disse-lhes: «Ide e mostrai-vos aos sacerdotes.» Ora, enquanto iam a caminho, ficaram purificados.
Um deles, vendo-se curado, voltou, glorificando a Deus em voz alta; caiu aos pés de Jesus com a face em terra e agradeceu-lhe. Era um samaritano. Tomando a palavra, Jesus disse: «Não foram dez os que ficaram purificados? Onde estão os outros nove? Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, senão este estrangeiro?» E disse-lhe: «Levanta-te e vai. A tua fé te salvou.»
Comentário ao Evangelho do dia feito por
São Bruno de Segni (c. 1045-1123), bispo Comentário sobre o Evangelho de Lucas, 2, 40; PL 165, 426-428
(a partir da trad. de Delhougne, Les Pères commentent, p. 449)
A fé que purifica
Que representam os dez leprosos, senão o conjunto dos pecadores? [...] Quando Cristo Nosso Senhor veio, todos os homens sofriam de lepra da alma, mesmo se nem todos estivessem fisicamente atacados. [...] Ora, a lepra da alma é bem pior que a do corpo.
Mas vejamos a continuação: «Mantendo-se à distância, gritaram, dizendo: ‘Jesus, Mestre, tem misericórdia de nós!’» Esses homens mantinham-se à distância porque não ousavam, tendo em conta o seu estado, avançar para mais perto d'Ele. O mesmo se passa conosco: enquanto permanecemos nos nossos pecados, mantemo-nos afastados. Portanto, para recuperarmos a saúde e nos curarmos da lepra dos nossos pecados, supliquemos com voz forte e digamos: «Jesus, Mestre, tem misericórdia de nós!» Esta súplica, no entanto, não deve vir da nossa boca, mas do nosso coração, porque o coração fala mais alto. A oração do coração penetra os céus e eleva-se muito alto, até ao trono de Deus.
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