sábado, 29 de maio de 2010

30 de Maio de 2010 – Domingo da Santíssima Trindade (Ofício Próprio) – Solenidade

A festa que hoje celebramos não é um convite a decifrar o mistério que se esconde por detrás de "um Deus em Três Pessoas"; mas é um convite a contemplar o Deus que é amor, que é família, que é comunidade e que criou os homens para fazê-los comungar nesse mistério de amor.
A Primeira Leitura sugere-nos a contemplação do Deus criador. A sua bondade e o seu amor estão inscritos e manifestam-se aos homens na beleza e na harmonia das obras criadas (Jesus Cristo é "sabedoria" de Deus e o grande revelador do amor do Pai).
A Segunda Leitura nos convida a contemplar o Deus que nos ama e que, por isso, nos "justifica", de forma gratuita e incondicional. É através do Filho que os dons de Deus/Pai se derramam sobre nós e nos oferecem a vida em plenitude.
O Evangelho convoca-nos, outra vez, para contemplar o amor do Pai, que se manifesta na doação e na entrega do Filho e que continua a acompanhar a nossa caminhada histórica através do Espírito. A meta final desta "história de amor" é a nossa inserção plena na comunhão com o Deus/amor, com o Deus/família, com o Deus/comunidade.

Provérbios 8, 22-31
O Senhor criou-me, como primícias das suas obras,
desde o princípio, antes que criasse coisa alguma. 
Desde a eternidade fui formada, desde as origens,
antes dos primórdios da terra. 
Ainda não havia os abismos e eu já tinha sido concebida;
ainda as fontes das águas não tinham brotado; 
antes que as montanhas fossem implantadas,
antes de haver outeiros, eu já tinha nascido. 
Ainda Ele não tinha criado a terra nem os campos,
nem os primeiros elementos do mundo. 
Quando Ele formava os céus, ali estava eu;
quando colocava a abóbada por cima do abismo, 
quando condensava as nuvens, nas alturas,
quando continha as fontes do abismo,
quando fixava ao mar os seus limites,
para que as águas não ultrapassassem a sua orla;
quando assentou os fundamentos da terra, 
eu estava com Ele como arquiteto, e era o seu encanto,
todos os dias, brincando continuamente em sua presença; 
brincava sobre a superfície da Terra,
e as minhas delícias é estar junto dos seres humanos. 

Salmos 8, 4-9
Quando contemplo os céus, obra das tuas mãos,
a Lua e as estrelas que Tu criaste:
que é o homem para te lembrares dele,
o filho do homem para com ele te preocupares?
Quase fizeste dele um ser divino;
de glória e de honra o coroaste.
Deste-lhe domínio sobre as obras das tuas mãos,
tudo submeteste a seus pés:
rebanhos e gado, sem exceção,
e até mesmo os animais bravios;
as aves do céu e os peixes do mar,
tudo o que percorre os caminhos do oceano.

Carta de São Paulo aos Romanos 5, 1-5 
Portanto, uma vez que fomos justificados pela fé, estamos em paz com Deus por Nosso Senhor Jesus Cristo. Por Ele tivemos acesso, na fé, a esta graça na qual nos encontramos firmemente e nos gloriamos, na esperança da glória de Deus. 
Mais ainda, gloriamo-nos também das tribulações, sabendo que a tribulação produz a paciência, a paciência a firmeza, e a firmeza a esperança. Ora a esperança não engana, porque o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. 

Evangelho segundo São João 16, 12-15
«Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capazes de compreendê-las agora. Quando Ele vier, o Espírito da Verdade, há de guiar-vos para a Verdade completa. Ele não falará por si próprio, mas há de dar-vos a conhecer quanto ouvir e anunciar-vos o que há de vir. 
Ele há de manifestar a minha glória, porque receberá do que é meu e vo-lo dará a conhecer. Tudo o que o Pai tem é meu; por isso é que Eu disse: 'Receberá do que é meu e vo-lo dará a conhecer'.» 

 Comentário ao Evangelho do dia feito por
São João da Cruz (1542-1591), carmelita, Doutor da Igreja 
«Cantar da alma que folga em conhecer a Deus por fé»,
Poema, Obras completas, Edições  Carmelo, 2005 pg. 68
«Um só Deus, um só Senhor, não na unidade de uma só pessoa,
mas na trindade de uma só natureza.» (Prefácio)

Que bem sei eu a fonte que mana e corre
Mesmo sendo noite!

Aquela eterna fonte está escondida.
Bem eu sei onde tem sua guarida, 
Mesmo sendo noite!

Sei que não pode haver coisa tão bela
E sei que os céus e a terra bebem dela,
Mesmo sendo noite!

Sua origem não a sei, pois não a tem, 
Mas sei que toda a origem dela vem
Mesmo sendo noite!

O fundo dela, sei, não pode achar-se;
Jamais por ela a vau pode passar-se,
Mesmo sendo noite!

É claridade nunca escurecida
E sei que toda a luz dela é nascida,
Mesmo sendo noite!

Tão caudalosas são as suas correntes
Que céus e infernos regam, mais as gentes,
Mesmo sendo noite!

Nascida de tal fonte, esta corrente
Bem sei que é mui capaz e onipotente,
Mesmo sendo noite!

Das duas a corrente que procede
Sei que nenhuma delas antecede,
Mesmo sendo noite!

Aquela eterna fonte está escondida
Neste pão vivo para dar-nos vida,
Mesmo sendo noite!

Aqui está chamando as criaturas:
Desta água se saciem, e às escuras,
Porque é de noite!

É esta a viva fonte que desejo
E neste pão de vida é que eu a vejo,
Mesmo sendo noite!



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