terça-feira, 30 de março de 2010

02 de Abril de 2010 – Sexta-feira Santa da Paixão do Senhor

A Paixão do Senhor, que não pode tomar-se isoladamente como um fato encerrado em si mesmo, visto ser apenas um dos momentos constitutivos da Páscoa, só pode compreender-se à luz da Palavra divina. Por isso, a Liturgia começa por nos introduzir, por meio de Isaías, de S. Paulo e de S. João, no mistério do sofrimento e Morte de Jesus.
Na posse do significado salvífico da Paixão, a assembléia cristã sente necessidade de se unir a esse ato sacerdotal de expiação e intercessão. Assim, a Liturgia da Palavra encerrar-se-á com uma solene oração, que abrange a humanidade inteira, pela qual Cristo morreu – uma oração verdadeiramente missionária.
A Cruz, “sinal do amor universal de Deus” (NA,4), símbolo do nosso resgate, domina a segunda parte da Celebração. Levada em procissão até ao altar, a cruz é apresentada à veneração de toda a humanidade pecadora, representada pela assembléia cristã. Nela, nós adoramos Jesus Cristo, Aquele que foi suspenso da Cruz, Aquele que foi, que é a “salvação do mundo”. É a ele também que exprimimos o nosso reconhecimento, quando beijamos o instrumento da nossa reconciliação.
Depois da contemplação do mistério da Cruz e da adoração de Cristo crucificado, a Liturgia vai-nos introduzir no mais íntimo do Mistério Pascal, vai-nos pôr em contacto com o próprio “Cordeiro Pascal”.
Não se celebra hoje a Eucaristia. No entanto, na Comunhão do “Pão que dá a Vida”, consagrado em Quinta-feira Santa, somos “batizados” no Sangue de Jesus, somos mergulhados na Sua morte.
cf. Missal Popular Dominical

Isaías 52, 13-15; 53, 1-12
Olhai, o meu servo terá êxito, será muito engrandecido e exaltado. Assim como muitos ficaram espantados diante dele, ao verem o seu rosto desfigurado e o seu aspecto disforme, agora fará com que muitos povos fiquem bem impressionados. Os reis ficarão boquiabertos, ao verem coisas inenarráveis, e ao contemplarem coisas inauditas. 
Quem acreditou no nosso anúncio? A quem foi revelado o braço do SENHOR? O servo cresceu diante do SENHOR como um rebento, como raiz em terra árida, sem figura nem beleza. Vimo-lo sem aspecto atraente, desprezado e abandonado pelos homens, como alguém cheio de dores, habituado ao sofrimento, diante do qual se tapa o rosto, menosprezado e desconsiderado. 
Na verdade, ele tomou sobre si as nossas doenças, carregou as nossas dores. Nós o reputávamos como um leproso, ferido por Deus e humilhado. Mas foi ferido por causa dos nossos crimes, esmagado por causa das nossas iniqüidades. O castigo que nos salva caiu sobre ele, fomos curados pelas suas chagas. 
Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas perdidas, cada um seguindo o seu caminho. Mas o SENHOR carregou sobre ele todos os nossos crimes. Foi maltratado, mas humilhou-se e não abriu a boca, como um cordeiro que é levado ao matadouro, ou como uma ovelha emudecida nas mãos do tosquiador. 
Sem defesa, nem justiça, levaram-no à força. Quem é que se preocupou com o seu destino? Foi suprimido da terra dos vivos, mas por causa dos pecados do meu povo é que foi ferido. Foi-lhe dada sepultura entre os ímpios, e uma tumba entre os malfeitores, embora não tenha cometido crime algum, nem praticado qualquer fraude. 
Mas aprouve ao SENHOR esmagá-lo com sofrimento, para que a sua vida fosse um sacrifício de reparação. Terá uma posteridade duradoura e viverá longos dias, e o desígnio do SENHOR realizar-se-á por meio dele. Por causa dos trabalhos da sua vida verá a luz. O meu servo ficará satisfeito com a experiência que teve. Ele, o justo, justificará a muitos, porque carregou com o crime deles. 
Por isso, ser-lhe-á dada uma multidão como herança, há de receber muita gente como despojos, porque ele próprio entregou a sua vida à morte, e foi contado entre os pecadores, tomando sobre si os pecados de muitos, e sofreu pelos culpados. 

Salmos 31, 2.6.12-13.15-16.17.25
Em ti, SENHOR, me refugio;
que eu nunca seja confundido.
Salva-me pela tua justiça.
Nas tuas mãos entrego o meu espírito;
SENHOR, Deus fiel, salva-me.
Tornei-me objeto de escárnio para os meus inimigos,
de desprezo para os meus vizinhos
e de terror para os meus conhecidos.
Os que me vêem na rua fogem de mim.
Votaram-me ao esquecimento como se tivesse morrido;
sou como um vaso desfeito.
Mas eu confio em ti, SENHOR;
e digo: "Tu és o meu Deus.
O meu destino está nas tuas mãos;
Livra-me dos meus inimigos e perseguidores.
Brilhe sobre o teu servo a luz da tua face;
salva-me pela tua misericórdia."
Tende coragem e fortalecei o vosso coração,
todos vós, que esperais no SENHOR!

Hebreus 4, 14-16; 5,7-9
Uma vez que temos um grande Sumo Sacerdote que atravessou os céus, Jesus, o Filho de Deus, conservemos firme a fé que professamos. 
De fato, não temos um Sumo Sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, pois Ele foi provado em tudo como nós, exceto no pecado. Aproximemo-nos, então, com grande confiança, do trono da graça, a fim de alcançar misericórdia e encontrar graça para uma ajuda oportuna. 
Nos dias da sua vida terrena, apresentou orações e súplicas àquele que o podia salvar da morte, com grande clamor e lágrimas, e foi atendido por causa da sua piedade. Apesar de ser Filho de Deus, aprendeu a obediência por aquilo que sofreu e, tornado perfeito, tornou-se para todos os que lhe obedecem fonte de salvação eterna, 

Paixão de Cristo segundo São João 18, 1-40; 19, 1-42
Tendo dito estas coisas, Jesus saiu com os discípulos para o outro lado da torrente do Cedron, onde havia um horto, e ali entrou com os seus discípulos. Judas, aquele que o ia entregar, conhecia bem o local, porque Jesus se reunia ali freqüentemente com os discípulos. 
Judas, então, guiando o destacamento romano e os guardas ao serviço dos sumos sacerdotes e dos fariseus, munidos de lanternas, archotes e armas, entrou lá. Jesus, sabendo tudo o que lhe ia acontecer, adiantou-se e disse-lhes: «Quem buscais?» Responderam-lhe: «Jesus, o Nazareno.» Disse-lhes Ele: «Sou Eu!» E Judas, aquele que o ia entregar, também estava junto deles. Logo que Jesus lhes disse: 'Sou Eu!', recuaram e caíram por terra.
E perguntou-lhes segunda vez: «Quem buscais?» Disseram-lhe: «Jesus, o Nazareno!» Jesus replicou-lhes: «Já vos disse que sou Eu. Se é a mim que buscais, então deixai estes ir embora.» Assim se cumpria o que dissera antes: 'Dos que me deste, não perdi nenhum.' 
Nessa altura, Simão Pedro, que trazia uma espada, desembainhou-a e arremeteu contra um servo do Sumo Sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. O servo chamava-se Malco. Mas Jesus disse a Pedro: «Mete a espada na bainha. Não hei de beber o cálice de amargura que o Pai me ofereceu?» 
Então, o destacamento, o comandante e os guardas das autoridades judaicas prenderam Jesus e algemaram-no. E levaram-no primeiro a Anás, porque era sogro de Caifás, o Sumo Sacerdote naquele ano.
Caifás era quem tinha dado aos judeus este conselho: 'Convém que morra um só homem pelo povo'. Entretanto, Simão Pedro e outro discípulo foram seguindo Jesus. Esse outro discípulo era conhecido do Sumo Sacerdote e pôde entrar no seu palácio ao mesmo tempo que Jesus. Mas Pedro ficou à porta, de fora. Saiu, então, o outro discípulo que era conhecido do Sumo Sacerdote, falou com a porteira e levou Pedro para dentro. 
Disse-lhe a porteira: «Tu não és um dos discípulos desse homem?» Ele respondeu: «Não sou.» Lá dentro estavam os servos e os guardas, de pé, aquecendo-se à volta de um braseiro que tinham acendido, porque fazia frio. Pedro ficou no meio deles, aquecendo-se também. 
Então, o Sumo Sacerdote interrogou Jesus acerca dos seus discípulos e da sua doutrina. Jesus respondeu-lhe: «Eu tenho falado abertamente ao mundo; sempre ensinei na sinagoga e no templo, onde todos os judeus se reúnem, e não disse nada em segredo. Por que me interrogas? Interroga os que ouviram o que Eu lhes disse. Eles bem sabem do que Eu lhes falei.» Quando Jesus disse isto, um dos guardas ali presente deu-lhe uma bofetada, dizendo: «É assim que respondes ao Sumo Sacerdote?» Jesus replicou: «Se falei mal, mostra onde está o mal; mas, se falei bem, por que me bates?» Então, Anás mandou-o algemado ao Sumo Sacerdote Caifás.
Entretanto, Simão Pedro estava de pé a aquecer-se. Disseram-lhe, então: «Não és tu também um dos seus discípulos?» Ele negou, dizendo: «Não sou.» Mas um dos servos do Sumo Sacerdote, parente daquele a quem Pedro cortara a orelha, disse-lhe: Pedro negou Jesus de novo; e nesse instante cantou um galo. 
De Caifás, levaram Jesus à sede do governador romano. Era de manhã cedo e eles não entraram no edifício para não se contaminarem e poderem celebrar a Páscoa. 
Pilatos veio ter com eles do lado de fora e perguntou-lhes: «Que acusações apresentais contra este homem?» Responderam-lhe: «Se Ele não fosse um malfeitor, não to entregaríamos.» Retorquiu-lhes Pilatos: «Tomai-o vós e julgai-o segundo a vossa Lei.» «Não nos é permitido dar a morte a ninguém», disseram-lhe os judeus, em cumprimento do que Jesus tinha dito, quando explicou de que espécie de morte havia de morrer. 
Pilatos entrou de novo no edifício da sede, chamou Jesus e perguntou-lhe: «Tu és rei dos judeus?» Respondeu-lhe Jesus: «Tu perguntas isso por ti mesmo, ou porque outros to disseram de mim?» Pilatos replicou: «Serei eu, porventura, judeu? A tua gente e os sumos sacerdotes é que te entregaram a mim! Que fizeste?» 
Jesus respondeu: «A minha realeza não é deste mundo; se a minha realeza fosse deste mundo, os meus guardas teriam lutado para que Eu não fosse entregue às autoridades judaicas; portanto, o meu reino não é daqui.» Disse-lhe Pilatos: «Logo, Tu és rei!» Respondeu-lhe Jesus: «É como dizes: Eu sou rei! Para isto nasci, para isto vim ao mundo: para dar testemunho da Verdade. Todo aquele que vive da Verdade escuta a minha voz.» Pilatos replicou-lhe: «Que é a verdade?»
Dito isto, foi ter de novo com os judeus e disse-lhes: «Não vejo nele nenhum crime. Mas é costume eu libertar-vos um preso na Páscoa. Quereis que vos solte o rei dos judeus?» Eles puseram-se de novo a gritar, dizendo: «Esse não, mas sim Barrabás!» Ora Barrabás era um salteador. Então, Pilatos mandou levar Jesus e flagelá-lo. 
Depois, os soldados entrelaçaram uma coroa de espinhos, cravaram-lha na cabeça e cobriram-no com um manto de púrpura; e, aproximando-se dele, diziam-lhe: «Salve! Ó Rei dos judeus!» E davam-lhe bofetadas. 
Pilatos saiu de novo e disse-lhes: «Vou trazê-lo cá fora para saberdes que eu não vejo nele nenhuma causa de condenação.» Então, saiu Jesus com a coroa de espinhos e o manto de púrpura. Disse-lhes Pilatos: «Eis o Homem!» Assim que viram Jesus, os sumos sacerdotes e os seus servidores gritaram: «Crucifica-o! Crucifica-o!» Disse-lhes Pilatos: «Levai-o vós e crucificai-o. Eu não descubro nele nenhum crime.» Os judeus replicaram-lhe: «Nós temos uma Lei e, segundo essa Lei, deve morrer, porque disse ser Filho de Deus.» Quando Pilatos ouviu estas palavras, mais assustado ficou. 
Voltou a entrar no edifício da sede e perguntou a Jesus: «Donde és Tu?» Mas Jesus não lhe deu resposta. Pilatos disse-lhe, então: «Não me dizes nada? Não sabes que tenho o poder de te libertar e o poder de te crucificar?» Respondeu-lhe Jesus: «Não terias nenhum poder sobre mim, se não te fosse dado do Alto. Por isso, quem me entregou a ti tem maior pecado.» A partir daí, Pilatos procurava libertá-lo, mas os judeus clamavam: «Se libertas este homem, não és amigo de César! Todo aquele que se faz rei declara-se contra César.» 
Ouvindo estas palavras, Pilatos trouxe Jesus para fora e fê-lo sentar numa tribuna, no lugar chamado Lajedo, ou Gábata em hebraico. Era o dia da Preparação da Páscoa, por volta do meio-dia. Disse, então, aos judeus: «Aqui está o vosso Rei!» E eles bradaram: «Fora! Fora! Crucifica-o!» Disse-lhes Pilatos: «Então, hei de crucificar o vosso Rei?» Replicaram os sumos sacerdotes: «Não temos outro rei, senão César.» Então, entregou-o para ser crucificado. E eles tomaram conta de Jesus. 
Jesus, levando a cruz às costas, saiu para o chamado Lugar da Caveira, que em hebraico se diz Gólgota, onde o crucificaram, e com Ele outros dois, um de cada lado, ficando Jesus no meio. Pilatos redigiu um letreiro e mandou pô-lo sobre a cruz. Dizia: «Jesus Nazareno, Rei dos Judeus.» Este letreiro foi lido por muitos judeus, porque o lugar onde Jesus tinha sido crucificado era perto da cidade e o letreiro estava escrito em hebraico, em latim e em grego. 
Então, os sumos sacerdotes dos judeus disseram a Pilatos: «Não escrevas 'Rei dos Judeus', mas sim: 'Este homem afirmou: Eu sou Rei dos Judeus.'» Pilatos respondeu: «O que escrevi, escrevi.» 
Os soldados, depois de terem crucificado Jesus, pegaram na roupa dele e fizeram quatro partes, uma para cada soldado, exceto a túnica. A túnica, toda tecida de uma só peça de alto a baixo, não tinha costuras. Então, os soldados disseram uns aos outros: «Não a rasguemos; tiremo-la à sorte, para ver quem a ganhará.» Assim se cumpriu a Escritura, que diz: “Repartiram entre eles as minhas vestes e sobre a minha túnica lançaram sortes.” E foi isto o que fizeram os soldados. 
Junto à cruz de Jesus estavam, de pé, sua mãe e a irmã da sua mãe, Maria, a mulher de Cléofas, e Maria Madalena. Então, Jesus, ao ver ali ao pé a sua mãe e o discípulo que Ele amava, disse à mãe: «Mulher, eis o teu filho!» Depois, disse ao discípulo: «Eis a tua mãe!» E, desde aquela hora, o discípulo acolheu-a como sua. Depois disso, Jesus, sabendo que tudo se consumara, para se cumprir totalmente a Escritura, disse: «Tenho sede!» Havia ali uma vasilha cheia de vinagre. Então, ensopando no vinagre uma esponja fixada num ramo de hissopo, chegaram-lha à boca. Quando tomou o vinagre, Jesus disse: «Tudo está consumado.» E, inclinando a cabeça, entregou o espírito. 

(Pausa para Meditação.)

Como era o dia da Preparação da Páscoa, para evitar que no sábado ficassem os corpos na cruz, porque aquele sábado era um dia muito solene, os judeus pediram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas e fossem retirados. Os soldados foram e quebraram as pernas ao primeiro e também ao outro que tinha sido crucificado juntamente. 
Mas, ao chegarem a Jesus, vendo que já estava morto, não lhe quebraram as pernas. Porém, um dos soldados traspassou-lhe o peito com uma lança e logo brotou sangue e água. 
Aquele que viu estas coisas é que dá testemunho delas e o seu testemunho é verdadeiro. E ele bem sabe que diz a verdade, para vós crerdes também. É que isto aconteceu para se cumprir a Escritura, que diz: Não se lhe quebrará nenhum osso. E também outro passo da Escritura diz: “Hão de olhar para aquele que trespassaram.” 
Depois disto, José de Arimatéia, que era discípulo de Jesus, mas secretamente por medo das autoridades judaicas, pediu a Pilatos que lhe deixasse levar o corpo de Jesus. E Pilatos permitiu-lho. Veio, pois, e retirou o corpo. Nicodemos, aquele que antes tinha ido ter com Jesus de noite, apareceu também trazendo uma mistura de perto de cem libras de mirra e aloés. 
Tomaram então o corpo de Jesus e envolveram-no em panos de linho com os perfumes, segundo o costume dos judeus. No lugar em que Ele tinha sido crucificado havia um horto e, no horto, um túmulo novo, onde ainda ninguém tinha sido sepultado. Como para os judeus era o dia da Preparação da Páscoa e o túmulo estava perto, foi ali que puseram Jesus. 

 Comentário ao Evangelho do dia feito por 
Santo Agostinho (354-430),
Bispo de Hipona (África do Norte) e Doutor da Igreja 
Sermões sobre o Evangelho de São João, nº 2
(a partir da trad. cf E. de Solms, Christs romans, Zodiaque 1966, p. 72ss.)
«O centurião que se encontrava 
em frente d'Ele, exclamou:
"Verdadeiramente este homem 
era o Filho de Deus!"»
«No princípio era o Verbo» (Jo 1, 1), a Palavra de Deus. Ele é idêntico a Si próprio; o que Ele é, o é sempre; Ele não pode mudar, Ele é o que é. Foi esse o nome com que Se deu a conhecer ao Seu servo Moisés: «Eu sou Aquele que sou» e «Tu dirás: Aquele que É enviou-me» (Ex 3,14). [...] Quem pode compreendê-Lo? Ou quem poderá chegar a Ele – supondo que emprega todas as forças do seu espírito para atingir, melhor ou pior, Aquele que é? Compará-lo-ei a um exilado, que de longe vê a sua pátria: o mar separa-os; vê para onde deve ir, mas não tem meios de lá chegar. Também nós queremos chegar a esse porto definitivo que será nosso, onde está Aquele que É, porque só Ele é sempre o mesmo, mas o oceano que é este mundo corta-nos o caminho. [...] 
Para nos dar um meio para irmos até lá, Aquele que nos chama veio de lá e escolheu uma madeira para nos fazer atravessar o mar: sim, ninguém pode atravessar o oceano deste mundo sem ser levado pela cruz de Cristo. Até um cego pode abraçar esta cruz; se não vês bem para onde vais, não a soltes: ela te conduzirá por si própria. Eis, meus irmãos, o que eu gostaria de fazer entrar nos vossos corações: se quereis viver no espírito de piedade, no espírito cristão, uni-vos a Cristo como Ele tem feito por nós, a fim de vos juntardes a Ele tal como Ele é, e tal como sempre foi. Foi por isso que Ele desceu até nós, porque fez-Se homem a fim de levar os inválidos, de os fazer atravessar o mar e de os fazer abordar na pátria, onde já não há necessidade de navios porque não há mais oceanos para atravessar. Se necessário, seria melhor não ver com o espírito Aquele que é mas abraçar a cruz de Cristo, do que vê-Lo com o espírito e desprezar a cruz.
Possamos nós, para nosso bem, ao mesmo tempo ver para onde vamos e fixar-nos com grampos ao navio que nos leva! [...] Alguns conseguiram-no, e viram Aquele que é. Foi porque O viu que João disse: «No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.» Eles viram-no; e, para chegarem junto Daquele que viam de longe, uniram-se à cruz de Cristo, não desprezaram a humildade de Cristo.

Fontes:

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